Paulo Freire e as
teorias da comunicação
O pensamento pedagógico de Paulo Freire contribuiu de maneira decisiva
para a formulação de um modelo de comunicação horizontal e democrático. Ainda
que a única oportunidade em que Freire se referiu explicitamente à comunicação
foi em seu livro Extensão e Comunicação, no qual realizou uma crítica radical
ao modelo “extensionista”, suas propostas formuladas a partir da educação
tiveram, especialmente na América Latina, impacto significativo sobre a teoria
da comunicação em geral. Freire partiu do princípio de que a comunicação é a
que transforma essencialmente os homens em sujeitos. Com esta base formulou sua
proposição fundamental de que a educação, como construção compartilhada de
conhecimentos, constitui um processo de comunicação porque se gera através de
relações dialéticas entre os seres humanos e com o mundo. A educação como
prática da liberdade é sobretudo e antes de tudo uma situação de conhecimento
que não termina no objeto estudado, já que se comunica a outros sujeitos também
abertos ao conhecimento.
Um processo interativo e
co-participado de criação entre sujeitos necessita estar baseado numa relação
de diálogo que, como processo significativo, compartilhado por sujeitos iguais
em uma relação também de igualdade, constitui a “essência”, a “estrutura
fundamental” e o campo social da educação.
A comunicação adquiriu em Freire uma
dimensão política, em vista do caráter problematizado, gerador de reflexão
(consciência crítica) e de transformação da realidade que possui o diálogo.
Este não é possível sem um “compromisso com seu processo”.
O caráter problematizado do diálogo
em torno das situações ou conteúdos reais, concretos, existenciais, implica
necessariamente um “retorno crítico à ação” transformadora.
A reflexão e a ação constituem para
Freire as duas dimensões necessárias da essência da comunicação, mediadas pela
“palavra” ou “linguagem-pensamento”. Daí que somente se pode falar da “palavra
verdadeira” como práxis, no sentido de “dar nome ao mundo”, “de compreender o
processo sócio-histórico em que são gerados o pensamento e a linguagem” e de
“transformar o mundo”.
Como proposta de “ação cultural”
libertadora, Freire finalmente defendeu que o desafio fundamental para os
oprimidos do Terceiro Mundo, consistia em “seu direito à voz”, ou seu “direito
de pronunciar sua palavra”, “direito de auto expressão e expressão do mundo”,
de participar, em definitivo, do processo histórico da sociedade.
Seguindo esta matriz de pensamento,
diversos comunicadores e grupos latino-americanos contribuíram, durante a
década de 70, para configurar melhor proposta de um modelo de comunicação
horizontal, democrático e participativo do qual somos herdeiros. Nossas novas
propostas democráticas para esta década não podem esquecer de onde provém sua
inspiração fundamental.
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