sexta-feira, 3 de abril de 2015

REFLEXÕES SOBRE OS CONCEITOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO APRESENTADOS POR PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL


REFLEXÕES SOBRE OS CONCEITOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO APRESENTADOS POR PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Maria Angélica Olivo Francisco Lucas
O objetivo deste artigo é expor e analisar conceitos de alfabetização e letramento apresentados por professoras de educação infantil. Pautando-nos em Soares (1998; 2004), concebemos alfabetização como processo de aprendizagem de habilidades necessárias aos atos de ler e escrever e letramento como estado ou condição do sujeito que incorpora práticas sociais de leitura e escrita. Assim entendidos, os termos alfabetização e letramento não são sinônimos. Trata-se de processos distintos que, contudo, ocorrem de forma indissociável e interdependente. Participaram da pesquisa professores, em sua maioria com formação em nível superior, que atuam em instituições públicas de educação infantil. A coleta dos dados empíricos foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas. O conjunto das respostas, apresentadas sob a forma de excertos, permitiu-nos compreender a forma como os professores compreendem a relação entre os processos de alfabetização e letramento. Ao falar sobre alfabetização, nenhuma professora mencionou o processo de letramento. No entanto, ao revelarem como entendem o processo de letramento,a maioria relacionou-o à alfabetização, ora considerando-os sinônimos, ora confundindo um com o outro, ora percebendo diferenças entre ambos, mas  não as delimitando com clareza. Em função do perfil dos sujeitos da pesquisa foi possível inferirmos acerca dos projetos curriculares dos cursos de Pedagogia, reconhecendo a necessidade de encontrarmos outro modelo de formação inicial e continuada. Defendemos que tal tarefa requer formação sistemática com grau de profundidade que permita compreender a relação entre os processos de alfabetização e letramento e políticas públicas comprometidas com esse tipo de formação.

APRENDER BRINCANDO: O LÚDICO NA APRENDIZAGEM


I APRENDER BRINCANDO: O LÚDICO NA APRENDIZAGEM
Neste trabalho iremos explanar algumas definições importantes acerca do jogo no processo de aprendizagem, diferenciar o jogo, da brincadeira e do brinquedo, mostrando sua importância, e discorrer sobre a importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem.
1.1 O jogo no processo de aprendizagem
O brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual e sempre estiveram presentes em qualquer povo desde os mais remotos tempo. Através deles, a criança desenvolvem a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor. O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de dados e a aplicação dos fatos e dos princípios a novas situações que, por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obedecemos a regras, quando vivenciamos conflitos numa competição, etc. (CAMPOS)
Segundo PIAGET (1967) citado por , “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”. Através dele se processa a construção de conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais.
O jogo não é simplesmente um “passatempo” para distrair os alunos, ao contrário, corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de extraordinária importância na educação escolar. Estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a iniciativa individual, favorecendo o advento e o progresso da palavra. Estimula a observar e conhecer as pessoas e as coisas do ambiente em que se vive. Através do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. O jogo é essencial para que a criança manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. É somente sendo criativo que a criança descobre seu próprio eu (TEZANI, 2004).
O jogo é mais importante das atividades da infância, pois a criança necessita brincar, jogar, criar e inventar para manter seu equilíbrio com o mundo. A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e brincadeiras na prática pedagógica é uma realidade que se impõe ao professor. Brinquedos não devem ser explorados só para lazer, mas também como elementos bastantes enriquecedores para promover a aprendizagem. Através dos jogos e brincadeiras, o educando encontra apoio para superar suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo. Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que traz enormes contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar. (CAMPOS)
1.2 Brinquedos, brincadeira e jogo
Em todos os tempos, para todos os povos, os brinquedos evocam as mais sublimes lembranças. São objetos mágicos, que vão passando de geração a geração, com um incrível poder de encantar crianças e adultos. (VELASCO, 1996)
Diferindo do jogo, o brinquedo supõe uma relação intima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. (KISHIMOTO, 1994)
O brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com representações vinculadas pela memória e imaginações. O vocábulo “brinquedo” não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota a criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira.
O brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporcionam o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e da atenção.
O brinquedo traduz o real para a realidade infantil. Suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Brincando, sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvidas. A qualidade de oportunidade que estão sendo oferecidas à criança através de brincadeiras e de brinquedos garante que suas potencialidades e sua afetividade se harmonizem.
Para Vygotsky (1994) citado por OLIVEIRA, DIAS, ROAZZI (2003), o prazer não pode ser considerado a característica definidora do brinquedo, como muitos pensam. O brinquedo na verdade, preenche necessidades, entendendo-se estas necessidades como motivos que impelem a criança à ação. São exatamente estas necessidades que fazem a criança avançar em seu desenvolvimento.
A brincadeira é alguma forma de divertimento típico da infância, isto é, uma atividade natural da criança, que não implica em compromissos, planejamento e seriedade e que envolve comportamentos espontâneos e geradores de prazer. Brincando a criança se diverte, faz exercícios, constrói seu conhecimento e aprende a conviver com seus amiguinhos.
A brincadeira transmitida à criança através de seus próprios familiares, de forma expressiva, de uma geração a outra, ou pode ser aprendida pela criança de forma espontânea (MALUF,2003).
É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras de jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Dessa forma brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo (KISHMOTO, 1994).
Para a criança, a brincadeira gira em torno da espontaneidade e da imaginação. Não depende de regras, de formas rigidamente estruturadas. Para surgir basta uma bola, um espaço para correr ou um risco no chão (VELASCO, 1996).
Segundo VYGOTSKY, a brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes em todos os tipos de brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais, naquelas de faz-de-conta, como ainda nas que exigem regras (BERTOLDO, RUSCHEL).
A brincadeira não é um mero passatempo, ela ajuda no desenvolvimento das crianças, promovendo processos de socialização e descoberta do mundo (MALUF, 2003).
O jogo pode ser visto como: resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social; um sistema de regras e um objeto.
No primeiro caso, o sentido do jogo depende da linguagem de cada contexto social. Enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui. É este aspecto que nos mostra porque, dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas.
No segundo caso, um sistema de regras permite identificar, em qualquer jogo, uma estrutura sequencial que especifica sua modalidade. Tais estruturas sequenciais de regras permitem diferenciar cada jogo, ou seja, quando alguém joga, esta executando as regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica. O terceiro sentido refere-se ao jogo enquanto objeto.
Os três aspectos citados permitem uma primeira compreensão do jogo, diferenciando significados atribuídos por culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam.
Através do jogo a criança: libera e canaliza suas energias; tem o poder de transformar uma realidade difícil; propicia condições de liberação da fantasia; é uma grande fonte de prazer. O jogo é, por excelência, integrador, há sempre um caráter de novidade, o que é fundamental para despertar o interesse da criança, e à medida em que joga ela vai conhecendo melhor, construindo interiormente o seu mundo. Esta atividade é um dos meios propícios à construção do conhecimento.
1.3 A importância do lúdico na aprendizagem
O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo”. Se se achasse confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. O lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano. De modo que a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo. (ALMEIDA)
O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa. (NEVES)
Segundo PIAGET, o desenvolvimento da criança acontece através do lúdico. Ela precisa brincar para crescer, precisa do jogo como forma de equilibrarão com o mundo (BARROS).
Para VITAL DIDONET “é uma verdade que o brinquedo é apenas um suporte do jogo, do brincar, e que é possível brincar com a imaginação. Mas é verdade, também, que sem o brinquedo é muito mais difícil realizar a atividade lúdica, porque é ele que permite simular situações”. (BERTOLDO, RUSCHEL)
A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano é um espaço que merece atenção dos pais e educadores, pois é o espaço para expressão mais genuína do ser, é o espaço e o direito de toda a criança para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos.
O lúdico possibilita o estudo da relação da criança com o mundo externo, integrando estudos específicos sobre a importância do lúdico na formação da personalidade. Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o crescimento físico e desenvolvimento e, o que é mais importante, vai se socializando.
A convivência de forma lúdica e prazerosa com a aprendizagem proporcionará a criança estabelecer relações cognitivas às experiências vivenciadas, bem como relacioná-la as demais produções culturais e simbólicas conforme procedimentos metodológicos compatíveis a essa prática.
De acordo com Nunes, a ludicidade é uma atividade que tem valor educacional intrínseco, mas além desse valor, que lhe é inerente, ela tem sido utilizada como recurso pedagógico. Segundo Teixeira 1995 (apud NUNES), várias são as razões que levam os educadores a recorrer às atividades lúdicas e a utilizá-las como um recurso no processo de ensino-aprendizagem:
•As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica;
•O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo.
Ele é considerado prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário;
•As situações lúdicas mobilizam esquemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento.
Em geral, o elemento que separa um jogo pedagógico de um outro de caráter apenas lúdico é este: desenvolve-se o jogo pedagógico com a intenção de provocar aprendizagem significativa, estimular a construção de novo conhecimento e principalmente despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatória, ou seja, o desenvolvimento de uma aptidão ou capacidade cognitiva e apreciativa específica que possibilita a compreensão e a intervenção do indivíduo nos fenômenos sociais e culturais e que o ajude a construir conexões. (NUNES)
II MATERIAL E METODOS
2.1 População e Amostra
A pesquisa foi realizada com a participação 26 professores que lecionam da 1ª a 4ª série, de três escolas particulares e três escolas públicas, onde foram entrevistados, 17 professores de escolas particulares, e 9 professores de escolas públicas do município de João Pessoa, de ambos os sexos, com idade variando entre 19 e 52 anos.
2.2 Instrumento
Para alcançarmos os objetivos da pesquisa, e conseguirmos as informações e dados necessários, será indispensável à utilização de alguns procedimentos, que são a consulta bibliográfica, pois precisamos obter embasamento teórico a fim de nos aprofundarmos sobre o tema escolhido, e a aplicação de questionários semiestruturados, contendo quatro questões subjetivas e cinco questões objetivas. Para que assim possamos obter a opinião, e averiguar o nível de conhecimento sobre o assunto abordado, dos professores atuantes no campo de trabalho relacionado à educação infantil.
2.3 Local da Pesquisa
A pesquisa foi realizada em três escolas públicas e três escolas particulares da cidade de João Pessoa.
III ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Utilizamos como instrumento de pesquisa um questionário, para a obtenção dos dados, contendo questões objetivas e subjetivas, contemplando aspectos como a importância do lúdico, o que os professores utilizam em sala de aula, e se os mesmos acreditam no significado do aprender brincando. Os dados foram elaborados através do programa Microsoft Word. Onde obtivemos os dados abaixo citados:
Utilizando como conceito de lúdico como sendo: “A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimento e é relativa também à conduta daquele que joga, brinca e que se diverte”.
Pode-se observar que dos 26 entrevistados 76,92% responderam que o lúdico está relacionado com o jogo, brinquedo ou brincadeira; 11,53% das respostas foram consideradas não significativas de acordo com os autores aqui citados a respeito do que seria o lúdico; 7,69% responderam que o lúdico está relacionado com o diferenciamento entre cores e formas e 3,84% relacionaram o lúdico com a criatividade e a imaginação.
De acordo com as respostas obtidas, foi possível observar que 88,4% dos entrevistados responderam que Sim, que existe um espaço determinado para a utilização de brincadeiras, e 11,6% disserem que Não existe espaço.
Das vinte e seis pessoas, 84,6% responderam que as brincadeiras mais freqüentes na escola são os jogos educativos, que incluem massinha de modelar, ábaco, dominó, dama, jogos matemáticos, quebra-cabeça e jogos de memória. 34,6% citaram artes, 30,7% disseram amarelinha; 26,9% Educação física e 23,07% citaram Música.
Utilizamos como conceito de brincadeira para melhor relacionar as respostas, como sendo “A brincadeira é alguma forma de divertimento típico da infância, isto é, uma atividade natural da criança, que não implica em compromissos, planejamento e seriedade, e que ajuda no desenvolvimento e na socialização” (VELASCO e KISHMOTO).
Tendo em vista que o termo brincadeira é muito amplo e dá margem a várias definições, não foi possível categorizar as definições. Porém, escolhemos aleatoriamente três respostas significativas para comparar com as definições dos autores escolhidos: “ A brincadeira é uma atividade que deve fazer parte do cotidiano da criança para que ela possa ter um desenvolvimento motor e social  sadio”; “ Brincar é aprender a se relacionar com os colegas e a descobrir o mundo à sua volta”; “Uma forma de levar as crianças a desopilarem e de desenvolver a sua capacidade mental e corporal.”
De acordo com os autores estudados a Brinquedoteca “É o espaço criado com o objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar livremente” (SANTOS, 1999). Para categorizar as respostas utilizamos como base o conceito citado acima.
Dos vinte e seis entrevistados 92,4% respondeu que a Brinquedoteca é um espaço onde a criança brinca; 3,8% responderam que estaria voltado para a preparação dos professores e 3,8% das pessoas não soube responder.
Em grau de importância, 61,5% dos entrevistados, responderam que a brincadeira tem grau importantíssimo na aprendizagem da criança; 30,8% responderam que é muito importante a brincadeira e 7,7% disse ser importante.
De acordo com as respostas obtidas, 80,8% dos professores responderam que seus alunos brincam muito na escola; 7,7% disseram que eles brincam às vezes; 3,8% responderam que brincam muito pouco, 3,8% brincam muitíssimo e 3,8% responderam que as crianças brincam pouco na escola.
Em relação se o jogo deveria estar presente nas fases do desenvolvimento da criança, 88,5% dos entrevistados responderam que Sim e 11,5% responderam que não devem estar presente.  Por ultimo, dos entrevistados 96,1% responderam que seria possível reunir em uma mesma situação o brincar e o educar, enquanto que 3,9% responderam que às vezes é possível reuni-los.
IV CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Pesquisa realizada sobre “Aprender Brincando: o lúdico na aprendizagem” foi de grande importância, enriquecendo nossa vida acadêmica e nosso futuro profissional.
De acordo com os dados obtidos a partir da visão dos entrevistados, constatamos que o lúdico exerce um papel importante na aprendizagem das crianças, onde 96,1% dos professores responderam que é possível reunir dentro da mesma situação o brincar e o educar.
Verificamos, além disso, que 88,4% dos entrevistados afirmaram a existência de um espaço determinado para a utilização de brincadeiras na escola. E por fim, identificamos que 76,92% dos professores possuem uma percepção adequada em relação ao lúdico de acordo com os autores pesquisados.
A partir do exposto pudemos concluir que a maioria dos professores “obtém” certo conhecimento sobre o tema, porém observamos ainda que é necessário tanto nas escolas públicas quanto provadas, uma maior conscientização no sentido de desmistificar o papel do “brincar”, que não é apenas um mero passatempo, mas sim um objeto de grande valia na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças.
Sendo assim a escola e, principalmente, a educação infantil deveria considerar o lúdico como parceiro e utiliza-lo amplamente para atuar no desenvolvimento e na aprendizagem da criança.
 
 

A Criança com TDAH e a Escola.




A Criança com TDAH e a
A Criança com TDAH e a Escola.
 Problemas de comportamento e dificuldade de adaptação ao ambiente escolar são problemas recorrentes das crianças portadoras do TDAH
Dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo "mundo da lua" quando o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas são algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. O problema atinge um grande número de crianças e adolescentes, que vêem o seu desempenho acadêmico prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores.
Professores das primeiras séries do ensino fundamental vez por outra estão às voltas com um ou outro aluno que não pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas. O destino do bagunceiro é quase sempre a sala da diretoria, onde uma bela bronca o espera. Esse é um comportamento típico dos meninos portadores do transtorno, que neles tem o predomínio de sintomas de hiperatividade. Já entre as meninas, a situação mais comum é a daquela aluna comportada, quieta, que não participa das aulas (mas também não incomoda) e que está sempre distraída. Qualquer coisa é capaz de desviar sua atenção. A aula e o professor vão para o fim da lista de prioridades enquanto a mocinha se atém a ficar folheando o seu caderno, rabiscando na carteira e criando joguinhos com o estojo e as canetas. Tanto no caso das meninas distraídas quando no dos garotos bagunceiros, o resultado pode ser um aproveitamento acadêmico nada satisfatório no final do semestre e a frustrante sensação de não conseguir acompanhar os progressos do restante da turma.
Uma das principais dificuldades dos alunos portadores de TDAH são os problemas de comportamento no ambiente escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar rígido e pela agitação na sala de aula.
Fui chamada para conversar com a diretora da escola do meu filho diversas vezes ao longo do ano. Os professores se queixavam de que ele não parava quieto um minuto, tirava a tenção dos coleguinhas e que atrapalhava a aula - conta a secretária Maria Helena Araújo, mãe de Lucas, de 8 anos. Certa vez uma pedagoga escolar chegou a insinuar que um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema do menino - Ela disse na minha cara que atitudes assim são típicas de crianças que não recebem boa educação dos pais.
Professores despreparados
O episódio protagonizado por Maria Helena é bastante comum e se repete com frequência em escolas de todo o país. Raramente os profissionais encarregados da orientação escolar de uma escola estão preparados para lidar com uma criança portadora do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Os professores estão sobrecarregados e não conseguem lidar com o assunto. Eles lidam com uma série de alunos com problemas e não podem se dedicar aos alunos com TDAH - destaca o psiquiatra Ênio Andrade, que coordena o Ambulatório de TDAH infantil do Instituto de Psiquiatria que funciona no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele pondera que diante de uma turma que não raramente chega a 30 alunos, é difícil um professor conseguir dar atenção individualizada e conseguir acompanhar de perto as suas dificuldades de cada um. No stress do dia-a-dia, mandar o desordeiro para o corredor acaba sendo a maneira mais fácil de restabelecer a ordem na turma.
O aluno passa ser visto como desleixado, preguiçoso e indolente. Na verdade, estas são limitações impostas pela doença, que se não for corretamente diagnosticada e tratada, atrapalha tanto a vida dos pais quando dos filhos. Reuniões com a direção são freqüentes e, não raro, acompanhadas de um convite para trocar de instituição de ensino.
As crianças portadoras de TDAH não se adaptam bem a instituições de ensino muito tradicionais e que tenham um código disciplinar muito rígido. Nestas escolas, castigos e suspensões por problemas disciplinares são recorrentes - explica a psiquiatra Vanessa Ayrão, pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Tolerância zero
Esse foi o drama vivido pela advogada Márcia Guimarães. Decidida a oferecer ao filho Gustavo, hoje com 10 anos, uma educação de primeira linha, não hesitou em matriculá-lo em uma tradicional e cara escola do Rio de Janeiro. Em pouco tempo os problemas começaram a aparecer. Primeiro foram as repreensões leves, depois alguns castigos, seguidas reclamações dos professores e por fim uma reunião com o diretor.
Eles foram implacáveis. No meio do ano me chamaram na escola e disseram que o meu filho não tinha o perfil para seguir seus estudos naquela instituição. Eu ponderei e pedi que o deixassem ao menos terminar o ano, mas não consegui. O diretor afirmou que já havia dado diversas chances e que o comportamento do Gustavo estava comprometendo o andamento de toda a turma. Não tive escolha.
Preocupada com a boa formação do filho, procurou uma instituição com o mesmo perfil da anterior. O resultado foi igualmente ruim.
Os mesmos problemas se repetiram e no final do ano fui avisada de que a matrícula dele não poderia ser renovada. Comecei a ficar desesperada e não sabia o que fazer. Aos 7 anos de idade o meu filho já tinha sido expulso de duas escolas. Foi quando o meu marido leu uma reportagem sobre crianças hiperativas em um jornal e decidimos levá-lo ao psiquiatra - lembra Márcia. Ela diz que, ao chegar ao consultório, o médico não demorou mais que alguns segundos para dar o diagnóstico.
Na primeira consulta, o meu filho só faltou subir na estante do médico - brinca mãe, que depois escolheu para o filho um colégio com uma política educacional mais flexível e, seguindo recomendação do psiquiatra, antes de a escola mandar a primeira reclamação, ela mesma foi conversar com a orientadora educacional. Munida de reportagens, livros, folhetos explicativos e muita paciência, contou toda a história e falou sobre a doença.
A escola foi super. receptiva. Talvez pelo fato de eu tê-los procurado antes de qualquer reclamação, os professores se mostraram mais tolerantes e atenciosos. Mas não pude deixar de me surpreender com o fato de eles não terem a menor ideia sobre o que é o TDAH.
Escolas públicas: situação ainda mais grave
O médico Ênio Andrade faz coro e reforça o que a mãe de Gustavo descobriu na prática.
As escolas não estão preparadas e ainda tem muito o que aprender. E se em famílias com recursos e que podem recorrer a escolas particulares os pais e as crianças encontram problemas, imagine nas escolas públicas. Com a política da progressão continuada (em que o aluno passa de ano automaticamente, mesmo que o aprendizado não tenha sido satisfatório), muitas crianças só descobrem que tem o problema quando chegam a quinta-série e sequer sabem ler - explica o médico.
No núcleo de psiquiatria do Hospital da Clínicas recebo muitos pacientes de escolas públicas assim. As meninas são muito prejudicadas. Elas são quietinhas, distraídas, e não incomodam como os garotos. Os pais, pouco escolarizados e sem recursos, só desconfiam que há algo errado quando a filha vai fazer a prova para a quinta-série e o resultado é desastroso - completa Ênio.
O diagnóstico do TDAH é menos comum nas meninas. O que normalmente faz a família procurar um médico são os problemas com a agitação e a inquietação típica dos rapazes. Estima-se que dois terços dos pacientes diagnósticas sejam homens e apenas um terço de mulheres. Mas se as meninas não tem a mesma capacidade de alvoroçar a turma e tirar os professores do sério, as dificuldades de aprendizado são as mesmas.
Falta de atenção e impulsividade
Como o próprio nome já diz, uma das maiores queixas dos pacientes que sofrem de TDAH é a dificuldade de prestar atenção, de se concentrar e conseguir direcionar o raciocínio. Para agravar o quadro, as crianças com TDAH costumam ser muito criativas. Como resultado dessa combinação de fatores, os pacientes têm uma incrível capacidade de pensar em várias coisas ao mesmo tempo e, conseqüentemente, de se distrair. Parecem estar prestando atenção em outra coisa quando o professor fala com elas. Somada a isso está a dificuldade de acompanhar atividades monótonas: prestar atenção do início ao fim a uma aula pouco empolgante é praticamente impossível. O aluno fica inquieto e trata logo de procurar alguma atividade para se ocupar: conversar com o amigo ao lado, mexer na mochila ou ficar passando as folhas do livro. Para o professor fica a impressão de que o aluno é desinteressado e que não presta atenção na aula por pura falta de vontade.
Os médicos explicam que é importante diferenciar "dificuldades em se adaptar a um sistema educacional" de "impossibilidade de aprendizagem". As crianças com TDAH apresentam inteligência e capacidade de aprendizado idênticas a de uma criança normal e são bastante criativas, mas é preciso lhes dar chance para se desenvolver e observar as suas deficiências.
Por causa da desatenção, é comum a criança portadora não se concentrar na aula e não acompanhar a explicação dos professores. Elas perdem a matéria e não aprendem tanto quanto poderiam. Na hora das provas a desatenção é ainda mais cruel: o aluno comete erros tolos porque não leu corretamente o enunciado e não se preocupou muito com a resposta. Vale lembrar que a impulsividade e a falta de paciência são outras características típicas de quem tem TDAH. Nestes casos, nada mais natural que ler somente metade da pergunta e já responder. O aluno pode até conhecer o assunto e saber a matéria, mas não consegue bom rendimento nas provas e exames.
O tratamento traz melhoras significativas
Eu não conseguia entender notas baixas da minha filha. Um dia antes do exame eu repassava a matéria toda com ela e não havia um assunto que ela não soubesse. Quando ela chegava com a prova em casa, eu via que ela tinha errado questões cuja resposta eu tinha certeza que ela sabia - relata o arquiteto Henrique Maciel. Coube à sua própria filha fazer o seu autodiagnóstico.
Eu li numa dessas revistas semanais uma matéria sobre crianças e adolescentes com TDAH. Eu na época tinha 15 anos e, ao ler a história de alguns pacientes e os comentários dos médicos, me identifiquei totalmente - conta Gabriela, que hoje está com 18 anos e já consegue lidar melhor com os problemas do TDAH - estou no segundo período da faculdade e estou achando estudar agora muito mais fácil do que antes. A minha vida mudou nestes três anos de tratamento.
Os médicos relatam que após iniciar o tratamento, maioria das crianças apresenta melhora significativa no comportamento na capacidade de aprendizado. Em pouco tempo elas já prestam mais atenção à aula, conseguem se concentrar melhor e já não relutam tanto em realizar tarefas monótonas e repetitivas. Com melhoria da atenção, o rendimento escolar e as notas apresentam mudanças que podem ser surpreendentes. O aluno desleixado, preguiçoso e pouco esforçado, de uma hora para outra, pode finalmente encontrar espaço para desenvolver seu potencial e mostrar que, contornando as deficiências impostas pelo TDAH, tem um rendimento compatível ao de qualquer um.
A auto-estima e gosto pelos estudos chegam a apresentar uma positiva reversão. Um aluno que não consegue prestar atenção às aulas, é sempre repreendido pelo professor (seja por estar distraído , seja por ficar falando a aula inteira) e por mas que estude não tira boas notas, dificilmente vai ter a escola ocupando posição de destaque no seu ranking de favoritos. Os pais se queixam que os filhos não gostam de estudar, não dão valor à escola e que são muito relapsos. Mas como gostar de uma coisa na qual, por mais que nos esforcemos, não conseguimos ser bem sucedidos? Quando os primeiros resultados após o início do tratamento começam a aparecer, a criança passa a se interessar mais pela escola e a relação com os amigos também muda. Afinal, aquele garoto agitado e pavio-curto, que fala sem pensar e não se preocupa muito com o que vai dizer aos outros dá lugar a um outro mais tolerante, atento e consciente de si mesmo. Os professores, os companheiros de sala e o histórico escolar agradecem.
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Escola.



 Problemas de comportamento e dificuldade de adaptação ao ambiente escolar são problemas recorrentes das crianças portadoras do TDAH

Dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo "mundo da lua" quando o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas são algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. O problema atinge um grande número de crianças e adolescentes, que vêem o seu desempenho acadêmico prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores.

Professores das primeiras séries do ensino fundamental vez por outra estão às voltas com um ou outro aluno que não pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas. O destino do bagunceiro é quase sempre a sala da diretoria, onde uma bela bronca o espera. Esse é um comportamento típico dos meninos portadores do transtorno, que neles tem o predomínio de sintomas de hiperatividade. Já entre as meninas, a situação mais comum é a daquela aluna comportada, quieta, que não participa das aulas (mas também não incomoda) e que está sempre distraída. Qualquer coisa é capaz de desviar sua atenção. A aula e o professor vão para o fim da lista de prioridades enquanto a mocinha se atém a ficar folheando o seu caderno, rabiscando na carteira e criando joguinhos com o estojo e as canetas. Tanto no caso das meninas distraídas quando no dos garotos bagunceiros, o resultado pode ser um aproveitamento acadêmico nada satisfatório no final do semestre e a frustrante sensação de não conseguir acompanhar os progressos do restante da turma.

Uma das principais dificuldades dos alunos portadores de TDAH são os problemas de comportamento no ambiente escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar rígido e pela agitação na sala de aula.

Fui chamada para conversar com a diretora da escola do meu filho diversas vezes ao longo do ano. Os professores se queixavam de que ele não parava quieto um minuto, tirava a tenção dos coleguinhas e que atrapalhava a aula - conta a secretária Maria Helena Araújo, mãe de Lucas, de 8 anos. Certa vez uma pedagoga escolar chegou a insinuar que um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema do menino - Ela disse na minha cara que atitudes assim são típicas de crianças que não recebem boa educação dos pais.

Professores despreparados

O episódio protagonizado por Maria Helena é bastante comum e se repete com frequência em escolas de todo o país. Raramente os profissionais encarregados da orientação escolar de uma escola estão preparados para lidar com uma criança portadora do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade.

Os professores estão sobrecarregados e não conseguem lidar com o assunto. Eles lidam com uma série de alunos com problemas e não podem se dedicar aos alunos com TDAH - destaca o psiquiatra Ênio Andrade, que coordena o Ambulatório de TDAH infantil do Instituto de Psiquiatria que funciona no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele pondera que diante de uma turma que não raramente chega a 30 alunos, é difícil um professor conseguir dar atenção individualizada e conseguir acompanhar de perto as suas dificuldades de cada um. No stress do dia-a-dia, mandar o desordeiro para o corredor acaba sendo a maneira mais fácil de restabelecer a ordem na turma.

O aluno passa ser visto como desleixado, preguiçoso e indolente. Na verdade, estas são limitações impostas pela doença, que se não for corretamente diagnosticada e tratada, atrapalha tanto a vida dos pais quando dos filhos. Reuniões com a direção são freqüentes e, não raro, acompanhadas de um convite para trocar de instituição de ensino.

As crianças portadoras de TDAH não se adaptam bem a instituições de ensino muito tradicionais e que tenham um código disciplinar muito rígido. Nestas escolas, castigos e suspensões por problemas disciplinares são recorrentes - explica a psiquiatra Vanessa Ayrão, pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Tolerância zero

Esse foi o drama vivido pela advogada Márcia Guimarães. Decidida a oferecer ao filho Gustavo, hoje com 10 anos, uma educação de primeira linha, não hesitou em matriculá-lo em uma tradicional e cara escola do Rio de Janeiro. Em pouco tempo os problemas começaram a aparecer. Primeiro foram as repreensões leves, depois alguns castigos, seguidas reclamações dos professores e por fim uma reunião com o diretor.

Eles foram implacáveis. No meio do ano me chamaram na escola e disseram que o meu filho não tinha o perfil para seguir seus estudos naquela instituição. Eu ponderei e pedi que o deixassem ao menos terminar o ano, mas não consegui. O diretor afirmou que já havia dado diversas chances e que o comportamento do Gustavo estava comprometendo o andamento de toda a turma. Não tive escolha.

Preocupada com a boa formação do filho, procurou uma instituição com o mesmo perfil da anterior. O resultado foi igualmente ruim.

Os mesmos problemas se repetiram e no final do ano fui avisada de que a matrícula dele não poderia ser renovada. Comecei a ficar desesperada e não sabia o que fazer. Aos 7 anos de idade o meu filho já tinha sido expulso de duas escolas. Foi quando o meu marido leu uma reportagem sobre crianças hiperativas em um jornal e decidimos levá-lo ao psiquiatra - lembra Márcia. Ela diz que, ao chegar ao consultório, o médico não demorou mais que alguns segundos para dar o diagnóstico.

Na primeira consulta, o meu filho só faltou subir na estante do médico - brinca mãe, que depois escolheu para o filho um colégio com uma política educacional mais flexível e, seguindo recomendação do psiquiatra, antes de a escola mandar a primeira reclamação, ela mesma foi conversar com a orientadora educacional. Munida de reportagens, livros, folhetos explicativos e muita paciência, contou toda a história e falou sobre a doença.

A escola foi super. receptiva. Talvez pelo fato de eu tê-los procurado antes de qualquer reclamação, os professores se mostraram mais tolerantes e atenciosos. Mas não pude deixar de me surpreender com o fato de eles não terem a menor ideia sobre o que é o TDAH.

Escolas públicas: situação ainda mais grave

O médico Ênio Andrade faz coro e reforça o que a mãe de Gustavo descobriu na prática.

As escolas não estão preparadas e ainda tem muito o que aprender. E se em famílias com recursos e que podem recorrer a escolas particulares os pais e as crianças encontram problemas, imagine nas escolas públicas. Com a política da progressão continuada (em que o aluno passa de ano automaticamente, mesmo que o aprendizado não tenha sido satisfatório), muitas crianças só descobrem que tem o problema quando chegam a quinta-série e sequer sabem ler - explica o médico.

No núcleo de psiquiatria do Hospital da Clínicas recebo muitos pacientes de escolas públicas assim. As meninas são muito prejudicadas. Elas são quietinhas, distraídas, e não incomodam como os garotos. Os pais, pouco escolarizados e sem recursos, só desconfiam que há algo errado quando a filha vai fazer a prova para a quinta-série e o resultado é desastroso - completa Ênio.

O diagnóstico do TDAH é menos comum nas meninas. O que normalmente faz a família procurar um médico são os problemas com a agitação e a inquietação típica dos rapazes. Estima-se que dois terços dos pacientes diagnósticas sejam homens e apenas um terço de mulheres. Mas se as meninas não tem a mesma capacidade de alvoroçar a turma e tirar os professores do sério, as dificuldades de aprendizado são as mesmas.



Falta de atenção e impulsividade

Como o próprio nome já diz, uma das maiores queixas dos pacientes que sofrem de TDAH é a dificuldade de prestar atenção, de se concentrar e conseguir direcionar o raciocínio. Para agravar o quadro, as crianças com TDAH costumam ser muito criativas. Como resultado dessa combinação de fatores, os pacientes têm uma incrível capacidade de pensar em várias coisas ao mesmo tempo e, conseqüentemente, de se distrair. Parecem estar prestando atenção em outra coisa quando o professor fala com elas. Somada a isso está a dificuldade de acompanhar atividades monótonas: prestar atenção do início ao fim a uma aula pouco empolgante é praticamente impossível. O aluno fica inquieto e trata logo de procurar alguma atividade para se ocupar: conversar com o amigo ao lado, mexer na mochila ou ficar passando as folhas do livro. Para o professor fica a impressão de que o aluno é desinteressado e que não presta atenção na aula por pura falta de vontade.

Os médicos explicam que é importante diferenciar "dificuldades em se adaptar a um sistema educacional" de "impossibilidade de aprendizagem". As crianças com TDAH apresentam inteligência e capacidade de aprendizado idênticas a de uma criança normal e são bastante criativas, mas é preciso lhes dar chance para se desenvolver e observar as suas deficiências.

Por causa da desatenção, é comum a criança portadora não se concentrar na aula e não acompanhar a explicação dos professores. Elas perdem a matéria e não aprendem tanto quanto poderiam. Na hora das provas a desatenção é ainda mais cruel: o aluno comete erros tolos porque não leu corretamente o enunciado e não se preocupou muito com a resposta. Vale lembrar que a impulsividade e a falta de paciência são outras características típicas de quem tem TDAH. Nestes casos, nada mais natural que ler somente metade da pergunta e já responder. O aluno pode até conhecer o assunto e saber a matéria, mas não consegue bom rendimento nas provas e exames.

O tratamento traz melhoras significativas

Eu não conseguia entender notas baixas da minha filha. Um dia antes do exame eu repassava a matéria toda com ela e não havia um assunto que ela não soubesse. Quando ela chegava com a prova em casa, eu via que ela tinha errado questões cuja resposta eu tinha certeza que ela sabia - relata o arquiteto Henrique Maciel. Coube à sua própria filha fazer o seu autodiagnóstico.

Eu li numa dessas revistas semanais uma matéria sobre crianças e adolescentes com TDAH. Eu na época tinha 15 anos e, ao ler a história de alguns pacientes e os comentários dos médicos, me identifiquei totalmente - conta Gabriela, que hoje está com 18 anos e já consegue lidar melhor com os problemas do TDAH - estou no segundo período da faculdade e estou achando estudar agora muito mais fácil do que antes. A minha vida mudou nestes três anos de tratamento.

Os médicos relatam que após iniciar o tratamento, maioria das crianças apresenta melhora significativa no comportamento na capacidade de aprendizado. Em pouco tempo elas já prestam mais atenção à aula, conseguem se concentrar melhor e já não relutam tanto em realizar tarefas monótonas e repetitivas. Com melhoria da atenção, o rendimento escolar e as notas apresentam mudanças que podem ser surpreendentes. O aluno desleixado, preguiçoso e pouco esforçado, de uma hora para outra, pode finalmente encontrar espaço para desenvolver seu potencial e mostrar que, contornando as deficiências impostas pelo TDAH, tem um rendimento compatível ao de qualquer um.

A auto-estima e gosto pelos estudos chegam a apresentar uma positiva reversão. Um aluno que não consegue prestar atenção às aulas, é sempre repreendido pelo professor (seja por estar distraído , seja por ficar falando a aula inteira) e por mas que estude não tira boas notas, dificilmente vai ter a escola ocupando posição de destaque no seu ranking de favoritos. Os pais se queixam que os filhos não gostam de estudar, não dão valor à escola e que são muito relapsos. Mas como gostar de uma coisa na qual, por mais que nos esforcemos, não conseguimos ser bem sucedidos? Quando os primeiros resultados após o início do tratamento começam a aparecer, a criança passa a se interessar mais pela escola e a relação com os amigos também muda. Afinal, aquele garoto agitado e pavio-curto, que fala sem pensar e não se preocupa muito com o que vai dizer aos outros dá lugar a um outro mais tolerante, atento e consciente de si mesmo. Os professores, os companheiros de sala e o histórico escolar agradecem.

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