A Criança com TDAH e a
A Criança com TDAH e a Escola.
Problemas de comportamento e
dificuldade de adaptação ao ambiente escolar são problemas recorrentes das
crianças portadoras do TDAH
Dificuldade de prestar atenção na
aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo "mundo da
lua" quando o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer
os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de
coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas são
algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de
Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. O problema atinge um grande
número de crianças e adolescentes, que vêem o seu desempenho acadêmico
prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores.
Professores das primeiras séries do
ensino fundamental vez por outra estão às voltas com um ou outro aluno que não
pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que
está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas. O destino do
bagunceiro é quase sempre a sala da diretoria, onde uma bela bronca o espera.
Esse é um comportamento típico dos meninos portadores do transtorno, que neles
tem o predomínio de sintomas de hiperatividade. Já entre as meninas, a situação
mais comum é a daquela aluna comportada, quieta, que não participa das aulas
(mas também não incomoda) e que está sempre distraída. Qualquer coisa é capaz
de desviar sua atenção. A aula e o professor vão para o fim da lista de
prioridades enquanto a mocinha se atém a ficar folheando o seu caderno,
rabiscando na carteira e criando joguinhos com o estojo e as canetas. Tanto no
caso das meninas distraídas quando no dos garotos bagunceiros, o resultado pode
ser um aproveitamento acadêmico nada satisfatório no final do semestre e a
frustrante sensação de não conseguir acompanhar os progressos do restante da
turma.
Uma das principais dificuldades dos
alunos portadores de TDAH são os problemas de comportamento no ambiente
escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar
rígido e pela agitação na sala de aula.
Fui chamada para conversar com a
diretora da escola do meu filho diversas vezes ao longo do ano. Os professores
se queixavam de que ele não parava quieto um minuto, tirava a tenção dos
coleguinhas e que atrapalhava a aula - conta a secretária Maria Helena Araújo,
mãe de Lucas, de 8 anos. Certa vez uma pedagoga escolar chegou a insinuar que
um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema do menino - Ela disse na
minha cara que atitudes assim são típicas de crianças que não recebem boa
educação dos pais.
Professores despreparados
O episódio protagonizado por Maria
Helena é bastante comum e se repete com frequência em escolas de todo o país.
Raramente os profissionais encarregados da orientação escolar de uma escola
estão preparados para lidar com uma criança portadora do Transtorno do Déficit
de Atenção/Hiperatividade.
Os professores estão sobrecarregados
e não conseguem lidar com o assunto. Eles lidam com uma série de alunos com
problemas e não podem se dedicar aos alunos com TDAH - destaca o psiquiatra
Ênio Andrade, que coordena o Ambulatório de TDAH infantil do Instituto de
Psiquiatria que funciona no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele pondera que
diante de uma turma que não raramente chega a 30 alunos, é difícil um professor
conseguir dar atenção individualizada e conseguir acompanhar de perto as suas
dificuldades de cada um. No stress do dia-a-dia, mandar o desordeiro para o
corredor acaba sendo a maneira mais fácil de restabelecer a ordem na turma.
O aluno passa ser visto como
desleixado, preguiçoso e indolente. Na verdade, estas são limitações impostas
pela doença, que se não for corretamente diagnosticada e tratada, atrapalha
tanto a vida dos pais quando dos filhos. Reuniões com a direção são freqüentes
e, não raro, acompanhadas de um convite para trocar de instituição de ensino.
As crianças portadoras de TDAH não se
adaptam bem a instituições de ensino muito tradicionais e que tenham um código
disciplinar muito rígido. Nestas escolas, castigos e suspensões por problemas
disciplinares são recorrentes - explica a psiquiatra Vanessa Ayrão,
pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
Tolerância zero
Esse foi o drama vivido pela advogada
Márcia Guimarães. Decidida a oferecer ao filho Gustavo, hoje com 10 anos, uma
educação de primeira linha, não hesitou em matriculá-lo em uma tradicional e
cara escola do Rio de Janeiro. Em pouco tempo os problemas começaram a
aparecer. Primeiro foram as repreensões leves, depois alguns castigos, seguidas
reclamações dos professores e por fim uma reunião com o diretor.
Eles foram implacáveis. No meio do
ano me chamaram na escola e disseram que o meu filho não tinha o perfil para
seguir seus estudos naquela instituição. Eu ponderei e pedi que o deixassem ao
menos terminar o ano, mas não consegui. O diretor afirmou que já havia dado
diversas chances e que o comportamento do Gustavo estava comprometendo o
andamento de toda a turma. Não tive escolha.
Preocupada com a boa formação do
filho, procurou uma instituição com o mesmo perfil da anterior. O resultado foi
igualmente ruim.
Os mesmos problemas se repetiram e no
final do ano fui avisada de que a matrícula dele não poderia ser renovada.
Comecei a ficar desesperada e não sabia o que fazer. Aos 7 anos de idade o meu
filho já tinha sido expulso de duas escolas. Foi quando o meu marido leu uma reportagem
sobre crianças hiperativas em um jornal e decidimos levá-lo ao psiquiatra -
lembra Márcia. Ela diz que, ao chegar ao consultório, o médico não demorou mais
que alguns segundos para dar o diagnóstico.
Na primeira consulta, o meu filho só
faltou subir na estante do médico - brinca mãe, que depois escolheu para o
filho um colégio com uma política educacional mais flexível e, seguindo
recomendação do psiquiatra, antes de a escola mandar a primeira reclamação, ela
mesma foi conversar com a orientadora educacional. Munida de reportagens,
livros, folhetos explicativos e muita paciência, contou toda a história e falou
sobre a doença.
A escola foi super. receptiva. Talvez pelo fato de eu tê-los procurado
antes de qualquer reclamação, os professores se mostraram mais tolerantes e
atenciosos. Mas não pude deixar de me surpreender com o fato de eles não terem
a menor ideia sobre o que é o TDAH.
Escolas públicas: situação ainda mais grave
O médico Ênio Andrade faz coro e reforça o que a mãe de Gustavo descobriu
na prática.
As escolas não estão preparadas e
ainda tem muito o que aprender. E se em famílias com recursos e que podem
recorrer a escolas particulares os pais e as crianças encontram problemas,
imagine nas escolas públicas. Com a política da progressão continuada (em que o
aluno passa de ano automaticamente, mesmo que o aprendizado não tenha sido
satisfatório), muitas crianças só descobrem que tem o problema quando chegam a
quinta-série e sequer sabem ler - explica o médico.
No núcleo de psiquiatria do Hospital
da Clínicas recebo muitos pacientes de escolas públicas assim. As meninas são
muito prejudicadas. Elas são quietinhas, distraídas, e não incomodam como os
garotos. Os pais, pouco escolarizados e sem recursos, só desconfiam que há algo
errado quando a filha vai fazer a prova para a quinta-série e o resultado é
desastroso - completa Ênio.
O diagnóstico do TDAH é menos comum
nas meninas. O que normalmente faz a família procurar um médico são os
problemas com a agitação e a inquietação típica dos rapazes. Estima-se que dois
terços dos pacientes diagnósticas sejam homens e apenas um terço de mulheres.
Mas se as meninas não tem a mesma capacidade de alvoroçar a turma e tirar os
professores do sério, as dificuldades de aprendizado são as mesmas.
Falta de atenção e impulsividade
Como o próprio nome já diz, uma das
maiores queixas dos pacientes que sofrem de TDAH é a dificuldade de prestar
atenção, de se concentrar e conseguir direcionar o raciocínio. Para agravar o
quadro, as crianças com TDAH costumam ser muito criativas. Como resultado dessa
combinação de fatores, os pacientes têm uma incrível capacidade de pensar em
várias coisas ao mesmo tempo e, conseqüentemente, de se distrair. Parecem estar
prestando atenção em outra coisa quando o professor fala com elas. Somada a
isso está a dificuldade de acompanhar atividades monótonas: prestar atenção do
início ao fim a uma aula pouco empolgante é praticamente impossível. O aluno
fica inquieto e trata logo de procurar alguma atividade para se ocupar:
conversar com o amigo ao lado, mexer na mochila ou ficar passando as folhas do
livro. Para o professor fica a impressão de que o aluno é desinteressado e que
não presta atenção na aula por pura falta de vontade.
Os médicos explicam que é importante
diferenciar "dificuldades em se adaptar a um sistema educacional" de
"impossibilidade de aprendizagem". As crianças com TDAH apresentam
inteligência e capacidade de aprendizado idênticas a de uma criança normal e
são bastante criativas, mas é preciso lhes dar chance para se desenvolver e
observar as suas deficiências.
Por causa da desatenção, é comum a
criança portadora não se concentrar na aula e não acompanhar a explicação dos
professores. Elas perdem a matéria e não aprendem tanto quanto poderiam. Na
hora das provas a desatenção é ainda mais cruel: o aluno comete erros tolos
porque não leu corretamente o enunciado e não se preocupou muito com a
resposta. Vale lembrar que a impulsividade e a falta de paciência são outras
características típicas de quem tem TDAH. Nestes casos, nada mais natural que ler
somente metade da pergunta e já responder. O aluno pode até conhecer o assunto
e saber a matéria, mas não consegue bom rendimento nas provas e exames.
O tratamento traz melhoras significativas
Eu não conseguia entender notas
baixas da minha filha. Um dia antes do exame eu repassava a matéria toda com
ela e não havia um assunto que ela não soubesse. Quando ela chegava com a prova
em casa, eu via que ela tinha errado questões cuja resposta eu tinha certeza
que ela sabia - relata o arquiteto Henrique Maciel. Coube à sua própria filha
fazer o seu autodiagnóstico.
Eu li numa dessas revistas semanais
uma matéria sobre crianças e adolescentes com TDAH. Eu na época tinha 15 anos
e, ao ler a história de alguns pacientes e os comentários dos médicos, me
identifiquei totalmente - conta Gabriela, que hoje está com 18 anos e já
consegue lidar melhor com os problemas do TDAH - estou no segundo período da
faculdade e estou achando estudar agora muito mais fácil do que antes. A minha
vida mudou nestes três anos de tratamento.
Os médicos relatam que após iniciar o
tratamento, maioria das crianças apresenta melhora significativa no
comportamento na capacidade de aprendizado. Em pouco tempo elas já prestam mais
atenção à aula, conseguem se concentrar melhor e já não relutam tanto em
realizar tarefas monótonas e repetitivas. Com melhoria da atenção, o rendimento
escolar e as notas apresentam mudanças que podem ser surpreendentes. O aluno
desleixado, preguiçoso e pouco esforçado, de uma hora para outra, pode
finalmente encontrar espaço para desenvolver seu potencial e mostrar que,
contornando as deficiências impostas pelo TDAH, tem um rendimento compatível ao
de qualquer um.
A auto-estima e gosto pelos estudos
chegam a apresentar uma positiva reversão. Um aluno que não consegue prestar
atenção às aulas, é sempre repreendido pelo professor (seja por estar distraído
, seja por ficar falando a aula inteira) e por mas que estude não tira boas
notas, dificilmente vai ter a escola ocupando posição de destaque no seu
ranking de favoritos. Os pais se queixam que os filhos não gostam de estudar,
não dão valor à escola e que são muito relapsos. Mas como gostar de uma coisa
na qual, por mais que nos esforcemos, não conseguimos ser bem sucedidos? Quando
os primeiros resultados após o início do tratamento começam a aparecer, a
criança passa a se interessar mais pela escola e a relação com os amigos também
muda. Afinal, aquele garoto agitado e pavio-curto, que fala sem pensar e não se
preocupa muito com o que vai dizer aos outros dá lugar a um outro mais
tolerante, atento e consciente de si mesmo. Os professores, os companheiros de
sala e o histórico escolar agradecem.
-
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http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/117-a-crian%C3%A7a-com-tdah-e-a-escola.html#sthash.NCAiL23e.dpuf
Escola.
Problemas de comportamento e
dificuldade de adaptação ao ambiente escolar são problemas recorrentes das
crianças portadoras do TDAH
Dificuldade de prestar atenção na
aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo "mundo da
lua" quando o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer
os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de
coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas são
algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de
Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. O problema atinge um grande
número de crianças e adolescentes, que vêem o seu desempenho acadêmico
prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores.
Professores das primeiras séries do
ensino fundamental vez por outra estão às voltas com um ou outro aluno que não
pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que
está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas. O destino do
bagunceiro é quase sempre a sala da diretoria, onde uma bela bronca o espera.
Esse é um comportamento típico dos meninos portadores do transtorno, que neles
tem o predomínio de sintomas de hiperatividade. Já entre as meninas, a situação
mais comum é a daquela aluna comportada, quieta, que não participa das aulas
(mas também não incomoda) e que está sempre distraída. Qualquer coisa é capaz
de desviar sua atenção. A aula e o professor vão para o fim da lista de
prioridades enquanto a mocinha se atém a ficar folheando o seu caderno,
rabiscando na carteira e criando joguinhos com o estojo e as canetas. Tanto no
caso das meninas distraídas quando no dos garotos bagunceiros, o resultado pode
ser um aproveitamento acadêmico nada satisfatório no final do semestre e a
frustrante sensação de não conseguir acompanhar os progressos do restante da
turma.
Uma das principais dificuldades dos
alunos portadores de TDAH são os problemas de comportamento no ambiente
escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar
rígido e pela agitação na sala de aula.
Fui chamada para conversar com a
diretora da escola do meu filho diversas vezes ao longo do ano. Os professores
se queixavam de que ele não parava quieto um minuto, tirava a tenção dos
coleguinhas e que atrapalhava a aula - conta a secretária Maria Helena Araújo,
mãe de Lucas, de 8 anos. Certa vez uma pedagoga escolar chegou a insinuar que
um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema do menino - Ela disse na
minha cara que atitudes assim são típicas de crianças que não recebem boa
educação dos pais.
Professores despreparados
O episódio protagonizado por Maria
Helena é bastante comum e se repete com frequência em escolas de todo o país.
Raramente os profissionais encarregados da orientação escolar de uma escola
estão preparados para lidar com uma criança portadora do Transtorno do Déficit
de Atenção/Hiperatividade.
Os professores estão sobrecarregados
e não conseguem lidar com o assunto. Eles lidam com uma série de alunos com
problemas e não podem se dedicar aos alunos com TDAH - destaca o psiquiatra
Ênio Andrade, que coordena o Ambulatório de TDAH infantil do Instituto de
Psiquiatria que funciona no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele pondera que
diante de uma turma que não raramente chega a 30 alunos, é difícil um professor
conseguir dar atenção individualizada e conseguir acompanhar de perto as suas
dificuldades de cada um. No stress do dia-a-dia, mandar o desordeiro para o
corredor acaba sendo a maneira mais fácil de restabelecer a ordem na turma.
O aluno passa ser visto como
desleixado, preguiçoso e indolente. Na verdade, estas são limitações impostas
pela doença, que se não for corretamente diagnosticada e tratada, atrapalha
tanto a vida dos pais quando dos filhos. Reuniões com a direção são freqüentes
e, não raro, acompanhadas de um convite para trocar de instituição de ensino.
As crianças portadoras de TDAH não se
adaptam bem a instituições de ensino muito tradicionais e que tenham um código
disciplinar muito rígido. Nestas escolas, castigos e suspensões por problemas
disciplinares são recorrentes - explica a psiquiatra Vanessa Ayrão,
pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
Tolerância zero
Esse foi o drama vivido pela advogada
Márcia Guimarães. Decidida a oferecer ao filho Gustavo, hoje com 10 anos, uma
educação de primeira linha, não hesitou em matriculá-lo em uma tradicional e
cara escola do Rio de Janeiro. Em pouco tempo os problemas começaram a
aparecer. Primeiro foram as repreensões leves, depois alguns castigos, seguidas
reclamações dos professores e por fim uma reunião com o diretor.
Eles foram implacáveis. No meio do
ano me chamaram na escola e disseram que o meu filho não tinha o perfil para
seguir seus estudos naquela instituição. Eu ponderei e pedi que o deixassem ao
menos terminar o ano, mas não consegui. O diretor afirmou que já havia dado
diversas chances e que o comportamento do Gustavo estava comprometendo o
andamento de toda a turma. Não tive escolha.
Preocupada com a boa formação do
filho, procurou uma instituição com o mesmo perfil da anterior. O resultado foi
igualmente ruim.
Os mesmos problemas se repetiram e no
final do ano fui avisada de que a matrícula dele não poderia ser renovada.
Comecei a ficar desesperada e não sabia o que fazer. Aos 7 anos de idade o meu
filho já tinha sido expulso de duas escolas. Foi quando o meu marido leu uma reportagem
sobre crianças hiperativas em um jornal e decidimos levá-lo ao psiquiatra -
lembra Márcia. Ela diz que, ao chegar ao consultório, o médico não demorou mais
que alguns segundos para dar o diagnóstico.
Na primeira consulta, o meu filho só
faltou subir na estante do médico - brinca mãe, que depois escolheu para o
filho um colégio com uma política educacional mais flexível e, seguindo
recomendação do psiquiatra, antes de a escola mandar a primeira reclamação, ela
mesma foi conversar com a orientadora educacional. Munida de reportagens,
livros, folhetos explicativos e muita paciência, contou toda a história e falou
sobre a doença.
A escola foi super. receptiva. Talvez pelo fato de eu tê-los procurado
antes de qualquer reclamação, os professores se mostraram mais tolerantes e
atenciosos. Mas não pude deixar de me surpreender com o fato de eles não terem
a menor ideia sobre o que é o TDAH.
Escolas públicas: situação ainda mais grave
O médico Ênio Andrade faz coro e reforça o que a mãe de Gustavo descobriu
na prática.
As escolas não estão preparadas e
ainda tem muito o que aprender. E se em famílias com recursos e que podem
recorrer a escolas particulares os pais e as crianças encontram problemas,
imagine nas escolas públicas. Com a política da progressão continuada (em que o
aluno passa de ano automaticamente, mesmo que o aprendizado não tenha sido
satisfatório), muitas crianças só descobrem que tem o problema quando chegam a
quinta-série e sequer sabem ler - explica o médico.
No núcleo de psiquiatria do Hospital
da Clínicas recebo muitos pacientes de escolas públicas assim. As meninas são
muito prejudicadas. Elas são quietinhas, distraídas, e não incomodam como os
garotos. Os pais, pouco escolarizados e sem recursos, só desconfiam que há algo
errado quando a filha vai fazer a prova para a quinta-série e o resultado é
desastroso - completa Ênio.
O diagnóstico do TDAH é menos comum
nas meninas. O que normalmente faz a família procurar um médico são os
problemas com a agitação e a inquietação típica dos rapazes. Estima-se que dois
terços dos pacientes diagnósticas sejam homens e apenas um terço de mulheres.
Mas se as meninas não tem a mesma capacidade de alvoroçar a turma e tirar os
professores do sério, as dificuldades de aprendizado são as mesmas.
Falta de atenção e impulsividade
Como o próprio nome já diz, uma das
maiores queixas dos pacientes que sofrem de TDAH é a dificuldade de prestar
atenção, de se concentrar e conseguir direcionar o raciocínio. Para agravar o
quadro, as crianças com TDAH costumam ser muito criativas. Como resultado dessa
combinação de fatores, os pacientes têm uma incrível capacidade de pensar em
várias coisas ao mesmo tempo e, conseqüentemente, de se distrair. Parecem estar
prestando atenção em outra coisa quando o professor fala com elas. Somada a
isso está a dificuldade de acompanhar atividades monótonas: prestar atenção do
início ao fim a uma aula pouco empolgante é praticamente impossível. O aluno
fica inquieto e trata logo de procurar alguma atividade para se ocupar:
conversar com o amigo ao lado, mexer na mochila ou ficar passando as folhas do
livro. Para o professor fica a impressão de que o aluno é desinteressado e que
não presta atenção na aula por pura falta de vontade.
Os médicos explicam que é importante
diferenciar "dificuldades em se adaptar a um sistema educacional" de
"impossibilidade de aprendizagem". As crianças com TDAH apresentam
inteligência e capacidade de aprendizado idênticas a de uma criança normal e
são bastante criativas, mas é preciso lhes dar chance para se desenvolver e
observar as suas deficiências.
Por causa da desatenção, é comum a
criança portadora não se concentrar na aula e não acompanhar a explicação dos
professores. Elas perdem a matéria e não aprendem tanto quanto poderiam. Na
hora das provas a desatenção é ainda mais cruel: o aluno comete erros tolos
porque não leu corretamente o enunciado e não se preocupou muito com a
resposta. Vale lembrar que a impulsividade e a falta de paciência são outras
características típicas de quem tem TDAH. Nestes casos, nada mais natural que ler
somente metade da pergunta e já responder. O aluno pode até conhecer o assunto
e saber a matéria, mas não consegue bom rendimento nas provas e exames.
O tratamento traz melhoras significativas
Eu não conseguia entender notas
baixas da minha filha. Um dia antes do exame eu repassava a matéria toda com
ela e não havia um assunto que ela não soubesse. Quando ela chegava com a prova
em casa, eu via que ela tinha errado questões cuja resposta eu tinha certeza
que ela sabia - relata o arquiteto Henrique Maciel. Coube à sua própria filha
fazer o seu autodiagnóstico.
Eu li numa dessas revistas semanais
uma matéria sobre crianças e adolescentes com TDAH. Eu na época tinha 15 anos
e, ao ler a história de alguns pacientes e os comentários dos médicos, me
identifiquei totalmente - conta Gabriela, que hoje está com 18 anos e já
consegue lidar melhor com os problemas do TDAH - estou no segundo período da
faculdade e estou achando estudar agora muito mais fácil do que antes. A minha
vida mudou nestes três anos de tratamento.
Os médicos relatam que após iniciar o
tratamento, maioria das crianças apresenta melhora significativa no
comportamento na capacidade de aprendizado. Em pouco tempo elas já prestam mais
atenção à aula, conseguem se concentrar melhor e já não relutam tanto em
realizar tarefas monótonas e repetitivas. Com melhoria da atenção, o rendimento
escolar e as notas apresentam mudanças que podem ser surpreendentes. O aluno
desleixado, preguiçoso e pouco esforçado, de uma hora para outra, pode
finalmente encontrar espaço para desenvolver seu potencial e mostrar que,
contornando as deficiências impostas pelo TDAH, tem um rendimento compatível ao
de qualquer um.
A auto-estima e gosto pelos estudos
chegam a apresentar uma positiva reversão. Um aluno que não consegue prestar
atenção às aulas, é sempre repreendido pelo professor (seja por estar distraído
, seja por ficar falando a aula inteira) e por mas que estude não tira boas
notas, dificilmente vai ter a escola ocupando posição de destaque no seu
ranking de favoritos. Os pais se queixam que os filhos não gostam de estudar,
não dão valor à escola e que são muito relapsos. Mas como gostar de uma coisa
na qual, por mais que nos esforcemos, não conseguimos ser bem sucedidos? Quando
os primeiros resultados após o início do tratamento começam a aparecer, a
criança passa a se interessar mais pela escola e a relação com os amigos também
muda. Afinal, aquele garoto agitado e pavio-curto, que fala sem pensar e não se
preocupa muito com o que vai dizer aos outros dá lugar a um outro mais
tolerante, atento e consciente de si mesmo. Os professores, os companheiros de
sala e o histórico escolar agradecem.
-
See more at:
http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/117-a-crian%C3%A7a-com-tdah-e-a-escola.html#sthash.NCAiL23e.dpuf
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